segunda-feira, 29 de julho de 2019

Queen - The Fairy Feller's Master-Stroke (1974)

Por Daniel Benedetti
“The Fairy Feller’s Master-Stroke” é a sétima canção do álbum Queen II, disco lançado pela EMI Records, no Reino Unido, em 8 de março de 1974 e, tal qual seu nome sugere, é o segundo trabalho de estúdio da banda Queen.
Para se compreender o significado e a inspiração por trás de “The Fairy Feller’s Master-Stroke”, é preciso conhecer a figura de Richard Dadd.
Richard Dadd foi um pintor inglês da era vitoriana, conhecido por suas representações de fadas e outros assuntos sobrenaturais, cenas orientalistas e cenas enigmáticas de gênero, apresentadas com obsessivamente com mínimos detalhes. Dadd nasceu em Chatham, Kent, Inglaterra, filho de um químico, em 1º de agosto de 1817. Ele se educou na King’s School, em Rochester, onde sua aptidão para o desenho foi evidenciada ainda em tenra idade, levando a sua admissão à Royal Academy of Arts, com a idade de 20 anos. Dadd também foi treinado na Academia de Arte de William Dadson.
The Fairy Feller’s Master-Stroke 1855-64 Richard Dadd (1817-1886)
Junto a William Powell Frith, Augusto Egg, Henry O’Neil e outros, ele fundou o The Clique, do qual ele era geralmente considerado o maior talento. O The Clique foi um grupo de artistas ingleses formado no final da década de 1830 e descritos como “o primeiro grupo de artistas britânicos a se unir por uma força maior e a anunciar que a grande tradição retrógrada da Academia não era relevante para as exigências da arte contemporânea” (por David Greysmith em Richard Dadd: The Rock and Castle of Seclusion).
Alguns de seus trabalhos mais conhecidos são as ilustrações que ele produziu para o livro The Book of British Ballads (1842), e um frontispício que ele desenhou para o The Kentish Coronal (1840).
A vida de Richard Dadd mudaria frontalmente em 1842. Em julho daquele ano, Sir Thomas Phillips, o ex-prefeito de Newport, escolheu Dadd para acompanhá-lo como desenhista em uma expedição pela Europa, passando por Grécia, Turquia, Síria meridional e finalmente o Egito. Em novembro daquele ano, eles passaram duas semanas exaustivas no sul da Síria, viajando de Jerusalém à Jordânia, e voltando através do deserto de Engaddi. No final de dezembro, enquanto viajavam de barco pelo famoso Rio Nilo, Dadd passou por uma dramática mudança de personalidade, tornando-se delirante, cada vez mais violento e acreditando estar sob a influência do deus egípcio Osíris. Sua condição foi inicialmente declarada como insolação.
No retorno deles à Inglaterra, na primavera londrina de 1843, ele foi diagnosticado como sendo “mentalmente insalubre” e foi levado, por sua família, para uma tentativa de se recuperar na aldeia rural de Cobham, em Kent.
Em agosto de 1843, convencido de que seu pai era o diabo disfarçado, Dadd o matou com uma faca e fugiu para a França. A caminho de Paris, ele tentou matar um passageiro com uma navalha, mas foi dominado e preso pela polícia francesa. Dadd confessou ter matado o pai e foi devolvido à Inglaterra, onde foi internado no departamento criminal do hospital psiquiátrico Bethlem (também conhecido como Bedlam). No hospital, Dadd foi incentivado a continuar pintando.
Richard Dadd
The Fairy Feller’s Master-Stroke começou a ser pintada em 1855 e só foi concluída em 1864, enquanto Dadd estava encarcerado no asilo penal criminal do Hospital Real de Bethlem. A obra foi encomendada por George Henry Haydon, o qual era o comissário-chefe do Hospital de Bethlem na época.
Como foi afirmado, Dadd começou sua carreira como pintor de fadas antes do início de sua doença mental. Haydon ficou impressionado com os esforços artísticos de Dadd e pediu uma pintura de fada de sua autoria. Richard trabalhou na pintura por nove anos, prestando atenção microscópica aos detalhes e usando uma técnica de camadas para produzir resultados semelhantes aos de 3D. Embora seja geralmente considerado como seu trabalho mais importante, o próprio Dadd considerou a pintura inacabada (o fundo do canto inferior esquerdo é apenas esboçado).
Dadd assinou a parte de trás da tela com a inscrição: “The Fairy Feller’s Master-Stroke, pintado para G. H. Haydon Esqre por Rd. Dadd quasi 1855-64”. De acordo com Patricia Allderidge, ‘quasi’ pode significar que “foi deixado de lado durante esse período ou que demorou muito para começar”. A data final, 1864, coincide com a transferência de Dadd para o Broadmoor Hospital, em Berkshire.
Queen em 1974: Taylor, May, Deacon e Mercury.
A fim de dar contexto ao seu trabalho, Dadd subsequentemente escreveu um longo poema com o nome de Elimination of a Picture & its Subject—called The Fellers’ Master Stroke, no qual cada um dos personagens que aparecem na imagem recebe um nome e um propósito – incluindo uma miríade de referências ao antigo folclore inglês e a Shakespeare – em uma aparente tentativa de mostrar que a composição única da pintura não era meramente um produto de inspiração aleatória e selvagem.
Pula-se para o ano de 1974, quando o Queen era formado pelo vocalista Freddie Mercury, pelo guitarrista Brian May, pelo baixista John Deacon e pelo baterista Roger Taylor.
A canção “The Fairy Feller’s Master-Stroke” foi composta por Mercury. As letras foram baseadas em fantasia e fazem referência direta aos personagens e vinhetas detalhados na pintura e no poema escrito por Dadd. A faixa foi gravada em agosto de 1973, no Trident Studios, em Soho, Londres.
Na primeira estrofe, Mercury descreve os antecedentes do golpe de mestre:
He’s a fairy feller
The fairy folk have gathered round the new moon shine
To see the feller crack a nut at nights noon time
To swing his ace he swears, as it climbs he dares
To deliver
The master-stroke!
Algumas personagens incluem Queen Mab, Wagoner Will, o Tatterdemalion e outros:
Ploughman, Waggoner Will, and types
Politician with senatorial pope, he’s a dilly-dally-o
Pedagogue squinting, wears a frown
And a satyr peers under lady’s gown, dirty fellow
O uso da palavra ‘quaere’ no verso ‘What a quaere fellow’ não faz referência à sexualidade de Mercury, de acordo com Taylor:
What a dirty laddio
Tatterdemalion and a junketer
There’s a thief and a dragonfly trumpeter, he’s my hero
Fairy dandy tickling the fancy of his lady friend
The nymph in yellow ‘can we see the master-stroke’
What a quaere fellow
Na sequência, com sabedoria, Mercury continua descrevendo a história e suas personagens recheando a mensagem com magia e encantamento:
Soldier, sailor, tinker, tailor, ploughboy
Waiting to hear the sound
And the arch-magician presides
He is the leader
Oberon and titania watched by a harridan
Mab is the queen and there’s a good apothecary-man
Come to say hello
Fairy dandy tickling the fancy of his lady friend
The nymph in yellow
What a quaere fellow
E o final da música acontece apostando na sagacidade:
The ostler stares with hands on his knees
Come on, mr. Feller, crack it open if you please
Esta composição é muito interessante, bastante experimental, com um pé no Progressivo. O efeito catártico e divertido de sua sonoridade tem a faceta magistral do grupo. Em alguns mercados, o álbum incluiu uma capa dobrável com uma reprodução da pintura. O autor Neil Gaiman escreveu sobre a obra e o álbum em seu blog:
“A razão me diz que eu teria encontrado pela primeira vez a pintura em si, enigmaticamente intitulada The Fairy Feller’s Master-Stroke, reproduzida, praticamente em tamanho real, na capa dobrável de um álbum do Queen, aos quatorze anos ou mais, e isso não causou nenhuma impressão em mim. Essa é uma das coisas estranhas sobre isso. Você tem que vê-la em carne e osso, pintada em tela, a coisa real, que pendura, principalmente, quando não está viajando, na sala pré-rafaelita da Galeria Tate, fora do lugar entre as grandes molduras de ouro de Pré-Rafaelitas, todas muito mais imponentes e engenhosas do que a humilde fada que percorria as margaridas, para que se torne real. E quando você a vê, várias coisas se tornarão aparentes; algumas imediatamente, algumas eventualmente”.
Há indícios de que, sempre que o Queen tinha tempo livre, Mercury levava os caras da banda para a Galeria Tate para verem, pessoalmente, a pintura. Para a gravação de estúdio, Mercury tocou cravo e piano, e o produtor Roy Thomas Baker tocou castanholas. Taylor chamou a música de ‘maior experiência estéreo’ do Queen, referindo-se ao uso da técnica de panning na mixagem. A música foi executada apenas algumas vezes durante a turnê de Queen II. Acreditava-se que não havia gravação ao vivo da música até que, em 2014, foi lançada no Live at the Rainbow ’74.
Atualmente, a pintura está na coleção Tate Britain. Ela foi doada ao Tate pelo poeta de guerra Siegfried Sassoon, em memória de seu amigo e colega Julian Dadd, um sobrinho-neto de Richard, e de seus dois irmãos que deram a vida na Primeira Guerra Mundial.
A obra Port Stragglin
Dadd foi retratado no trabalho de sua obra Contradiction: Oberon and Titania pelo fotógrafo da sociedade londrina Henry Hering. Também datando da década de 1850 estão os 33 desenhos em aquarela intitulados Sketches to Illustrate the Passions, que incluem Grief or SorrowLove, and Jealousy, bem como Agony-Raving Madness Murder.
Como a maioria de seus trabalhos, eles foram executados em pequena escala e apresentam protagonistas cujos olhos são fixados em um olhar peculiar e desfocado. Dadd também produziu muitas cenas de navegação e paisagens, durante sua hospitalização, como a etérea aquarela de 1861, Port Stragglin. Estas foram pintadas com um olhar minimalista para detalhes que desmentem o fato de serem produtos de imaginação e memória.
Richard Dadd provavelmente sofria de esquizofrenia paranoica. Dois de seus irmãos tinham a mesma condição, enquanto um terceiro possuía ‘um atendente particular’ por razões desconhecidas.
Depois de 20 anos em Bethlem, Richard Dadd foi transferido para o Broadmoor Hospital, uma instalação de alta segurança nos arredores de Londres. Ali permaneceu, pintando constantemente e recebendo visitantes (pouco frequentes) até o dia 7 de janeiro de 1886, quando morreu ‘de uma extensa doença dos pulmões’. Vários de seus trabalhos permanecem em exibição no Broadmoor Hospital.

terça-feira, 23 de julho de 2019

John Lawton no Uriah Heep

Por Daniel Benedetti
Neste texto, pretende-se abordar a passagem do ótimo vocalista John Lawton pelo Uriah Heep, focando nos discos lançados durante este período e contextualizando o momento vivido pelo grupo. Em junho de 1976, o Uriah Heep lançava High and Mighty, seu nono álbum de estúdio. O grupo era formado pelo guitarrista Mick Box, pelo baixista John Wetton, pelo baterista Lee Kerslake, pelo tecladista Ken Hensley e pelo vocalista David Byron.
O álbum não foi bem recebido, já que, estilisticamente, ele se desviou de sua veia anterior, voltada ao Rock Progressivo, para um território mais mainstream, resultando na ausência de uma das ‘assinaturas’ do grupo, ou seja, longas composições e temas fantásticos.
High and Mighty é considerado leve até mesmo pelo guitarrista Mick Box. A questão da produção, aqui, tornou-se o ponto de maior conflito. Com o manager e produtor Gerry Bron comprometido com projetos não musicais (incluindo seu serviço de táxi-aéreo), a banda decidiu produzir o álbum por si mesma.Bron,  mais tarde, declarou que o resultado foi o pior álbum do Heep, enquanto Ken Hensley acusou o gerente de deliberadamente ignorar os interesses da banda. O disco, no entanto, foi lançado de maneira luxuosa (com jornalistas e empresários sendo levados para o topo de uma montanha suíça para uma recepção).
Foto de David Slowey
No entanto, a suntuosa festa para o lançamento do trabalho não combinou com a qualidade dos shows ao vivo, que estavam cada vez mais caóticos, devido à inconsistência do vocalista David Byron no palco. Ken Hensley afirmou que era comum Byron ficar bêbado após os shows, mas as apresentações da banda sempre vinham em primeiro lugar. Quando os shows se tornaram o ‘segundo plano’, os problemas vieram à tona. O biógrafo da banda, Kirk Blows, afirma: “A distância entre David e o resto (da banda) cresceu para proporções impraticáveis”.
Em julho de 1976, após o último show de uma turnê espanhola, Byron foi demitido. Logo o baixista John Wetton anunciou que também estava saindo do conjunto.
O Uriah Heep recrutou o baixista Trevor Bolder (ex-David Bowie), e depois de ter feito testes com David Coverdale (Deep Purple, Whitesnake), Ian Hunter e Gary Holton (Heavy Metal Kids) trouxe John Lawton para a posição de vocalista.
John Lawton
Mas quem é John Lawton?
John Cooper Lawton nasceu em 11 de julho de 1946, em Halifax, na Inglaterra. Lawton começou sua carreira musical em North Shields, no Reino Unido, durante o início dos anos 60, com um conjunto chamado The Deans, o qual não passava de um bando de garotos que decidiram, ao acaso, que John deveria ser o vocalista. Ele então se mudou para o grupo West One e depois para o Stonewall, este, incluía John Miles, Vic Malcolm (que seria do Geordie) e Paul Thompson (que faria parte do Roxy Music). Depois que o Stonewall terminou sua carreira no Top Ten Club, em Hamburgo, em 1969, Lawton decidiu ficar na Alemanha, onde conheceu Peter Hesslein, Dieter Horns, Peter Hecht e Joachim Reitenbach, que eram membros de uma banda chamada The German Bonds.
Os caras se juntaram para gravar um álbum sob o nome de Asterix, em 1970, e logo mudaram sua denominação para Lucifer’s Friend. Com o conjunto, antes de se juntar ao Heep, Lawton lançou os discos Lucifer’s Friend (1970), Where the Groupies Killed the Blues (1972), I’m Just a Rock ‘n’ Roll Singer (1973), Banquet (1974) e Mind Exploding (1975).
Naquele período, Lawton também se juntou ao Les Humphries Singers, um grupo que consistia de um grande número de cantores, de diversas origens étnicas, alguns dos quais, como John, que também se apresentavam com outros conjuntos. Com a entrada de Lawton, o Uriah Heep se afastaria totalmente das letras orientadas para a fantasia e das composições intrincadas, voltando-se para um som hard rock mais direto, típico da época. Hensley afirmou: “Ele tinha uma voz que pensei que nos daria uma nova dimensão”.

Firefly  [1977]
Em fevereiro de 1977, o Uriah Heep lançava Firefly, seu 10º álbum de estúdio. A produção ficou a cargo do manager da banda, Gerry Bron, e os selos responsáveis foram o Bronze Records e Warner Bros. (Estados Unidos e Canadá). As gravações ocorreram entre outubro e novembro de 1976, no Roundhouse Recording Studios, em Londres, na Inglaterra. O disco começa com “The Hanging Tree”, um Hard Rock que flerta com uma musicalidade mais Pop, com o teclado de Hensley bem proeminente. “Been Away Too Long” explora de modo inteligente toda a potência vocal de Lawton. “Who Needs Me” é rápida e direta, com bom trabalho de Kerslake na bateria e lembra os tempos (mais) clássicos da banda. A bonita “Wise Man” é uma faixa mais suave e demonstra o talento de Lawton nos vocais. “Do You Know” é outro eficiente Hard Rock e que até remete aos primeiros trabalhos do Queen. “Rollin’ On” possui uma pegada Bluesy, com o baixo de Bolder muito presente e um refrão que permanece “grudado” na memória. Já em “Sympathy”, o Hard com certo swing volta à cena, em uma construção divertida. “Firefly” encerra o disco em uma canção de início arrastado, mas que vai ganhando intensidade com o seu desenrolar. Firefly não fez sucesso no Reino Unido e atingiu apenas a 166ª colocação na principal parada norte-americana, a Billboard 200, embora tenha conquistado a 6ª e a 13ª posições nas paradas de Noruega e Dinamarca, respectivamente. “Wise Man” foi o primeiro single e “Sympathy” o segundo, no entanto, nenhum deles repercutiu em termos das paradas britânica e norte-americana.
Faixas:
  1. The Hanging Tree
  2. Been Away Too Long
  3. Who Needs Me
  4. Wise Man
  5. Do You Know
  6. Rollin’ On
  7. Sympathy
  8. Firefly
Formação:
John Lawton – Vocal
Mick Box – Guitarra
Ken Hensley – Teclados, Guitarras, Vocal em “Firefly”
Trevor Bolder – Baixo
Lee Kerslake – Bateria, Vocal em “Firefly”

A banda então excursionou pelos EUA, em suporte ao Kiss. Paul Stanley chegou a declarar: “Eles eram incrivelmente profissionais e tão consistentes que, em suas piores noites, eram excelentes e, nas melhores, eram formidáveis”.

Innocent Victim [1977]
Ainda no mesmo ano que Firefly, a Bronze Records soltou Innocent Victim em novembro de 1977 no Reino Unido (Nos EUA, a gravadora responsável foi a Warner). As gravações ocorreram, novamente, no Roundhouse Recording Studios, entre julho e setembro daquele mesmo ano. Gerry Bron retornou para a produção, desta feita ao lado de Ken Hensley. Há pouco mais de um ano, o consultor André Kaminski fez uma resenha deste álbum, com a sua habitual excelência, de modo que é desnecessário uma nova descrição do disco. Acesse-a aqui. De modo geral, há uma evidente tentativa do Uriah Heep suavizar sua sonoridade, aproximando-se consideravelmente do estilo AOR, o que é evidente no single “Free Me”. Entretanto, os melhores momentos do disco estão presentes quando o grupo foge do AOR, ou seja, em canções como a roqueira “Roller”, a balada “Illusion” e a metálica “Free ‘n’ Easy”. Lawton atua de modo competente. Embora não tenha causado barulho no Reino Unido e Estados Unidos, o single “Free Me” estoura na Nova Zelândia (3º lugar), e vai muito bem na Alemanha (e mercados contíguos, como Suíça e Áustria). Desta forma, Innocent Victim acaba atingindo a 15ª posição da principal parada de discos alemã, estimando-se que tenha ultrapassado a marca de 1 milhão de cópias vendidas apenas naquele país.
Faixas:
  1. Keep On Ridin’
  2. Flyin’ High
  3. Roller
  4. Free ‘n’ Easy
  5. Illusion
  6. Free Me
  7. Cheat ‘n’ Lie
  8. The Dance
  9. Choices
Formação:
John Lawton – Vocal
Mick Box – Guitarras
Ken Hensley – Teclados, Guitarras
Trevor Bolder – Baixo
Lee Kerslake – Bateria

Conforme foi dito, na Alemanha Innocent Victim fez sucesso, coincidindo com o relançamento do single “Lady in Black” (originalmente do álbum Salisbury, de 1971). Nesta época, havia 3 singles do Uriah Heep, simultaneamente, na parada alemã: “Wise Man” (de Firefly), “Lady in Black” e “Free Me”. Em janeiro do ano seguinte, o Uriah Heep tocou na Suíça com o Scorpions.

Fallen Angel [1978]
Nos meses de abril, julho e agosto de 1978, o Uriah Heep retornou ao Roundhouse Recording Studios, em Londres, para a gravação de Fallen Angel, seu décimo segundo álbum de estúdio, novamente contando com Gerry Bron e Ken Hensley na produção. A Bronze Records continuava sendo a gravadora, mas a Chrysalis passou a ser o selo responsável pela distribuição do disco na América do Norte. A arte da capa foi desenvolvida por Chris Achilleos, o mesmo artista desenhou a capa para o álbum Lovehunter, do Whitesnake, um ano depois. “Woman of the Night” possui teclados proeminentes, sintetizadores e um riff até interessante, com os vocais de Lawton sendo um destaque. “Falling in Love” é mais curta e direta, com um coro de vozes curioso no refrão. “One More Night (Last Farewell)” flerta ainda mais com o Pop, em um AOR ao estilo Foreigner. Já “Put Your Lovin’ on Me” é mais cadenciada e com um ritmo mais contido. “Come Back to Me” é a balada que encerra o lado A do disco. O lado B é aberto com “Whad’ya Say”, uma música quase ‘disco’. “Save It” resgata a sonoridade Rock dos anos 50. “Love or Nothing” continua com a pegada mais suave do álbum. “I’m Alive” flerta com o AOR uma vez mais, com guitarras mais presentes e vocais mais intensos de Lawton. “Fallen Angel” encerra o trabalho com uma abordagem mais próxima ao Uriah Heep clássico, embora muito mais leve. “Love or Nothing” atingiu a 36ª posição, enquanto “Come Back to Me” ficou com a 40ª colocação, ambas na principal parada alemã desta natureza, país onde o trabalho foi melhor recebido. Já Fallen Angel conquistou a modesta 186ª posição na Billboard 200, alcançando o 10º e o 18º lugares nas paradas de Noruega e Alemanha, respectivamente. Entretanto, o álbum pode ser considerado uma obra esquecível dentro da discografia de um conjunto do calibre do Uriah Heep.
Faixas:
  1. Woman of the Night
  2. Falling in Love
  3. One More Night (Last Farewell)
  4. Put Your Lovin’ on Me
  5. Come Back to Me
  6. Whad’ya Say
  7. Save It
  8. Love or Nothing
  9. I’m Alive
  10. Fallen Angel
Formação:
John Lawton – Vocal
Mick Box – Guitarras
Ken Hensley – Teclados, Sintetizadores, Slide Guitar, Guitarras
Trevor Bolder – Baixo
Lee Kerslake – Bateria
Músico Adicional:
Chris Mercer – Saxofone em “Save It”

Fallen Angel completou uma trinca de álbuns de estúdio com uma formação consistente da banda (apenas a segunda vez em sua carreira). O trabalho até foi bem recebido na época, por exemplo, pela revista Sounds. Enquanto isso, a aparente estabilidade do período de Lawton no grupo era desmentida pela agitação dos bastidores, comumente relacionada a Ken Hensley, economicamente ganhando muito mais que seus colegas e com Mick Box o acusando de usar indiscriminadamente tudo aquilo que compunha, incluindo material “precário”, segundo o guitarrista.
Entretanto, o grande racha se desenvolveu entre Hensley e John Lawton. Como o biógrafo Kirk Blows relatou: “a combinação de atrito constante entre os dois (resultando na coisa mais próxima da violência que o grupo havia visto) e a presença constante da esposa de Lawton na estrada finalmente levou o vocalista a ‘pegar o boné’, logo depois do grupo tocar no Bilzen Festival, na Bélgica, em agosto de 1979”. John Sloman (Lone Star) foi contratado, um vocalista mais jovem (e que tocava teclado e guitarra). Mas, quase que instantaneamente, Lee Kerslake saiu do conjunto, depois de uma briga com o manager Gerry Bron, a quem o baterista acusou de favorecer o material de Hensley.
Várias faixas do (então) próximo álbum tiveram que ser regravadas com um novo baterista, Chris Slade (Manfred Mann’s Earth Band). Conquest foi lançado em fevereiro de 1980.
*****
John Lawton lançou um álbum solo em 1980, Heartbeat, em que cantou à frente de todo o Lucifer’s Friend. O retorno oficial ao conjunto seria ainda naquele ano, mas o grupo lançaria o disco Mean Machine apenas em  1981. Durante sua carreira, Lawton também trabalhou com alguns dos grandes nomes do rock, em diferentes projetos, incluindo o “Butterfly Ball” live at Royal Albert Hall, em 1975, de Roger Glover, e que contava com David Coverdale, Glenn Hughes, Ian Gillan e Twiggy. Ele também cantou no “Wizard’s Convention II”, de Eddie Hardin, com Chris Farlowe, Denny Laine, Paul Jones e Tony Ashton.
Em 1986, o Uriah Heep lançou Live in Europe 79, que, como obviamente o nome diz, foi gravado naquele ano, e que contava com John Lawton nos vocais. Em 1995, ele voltou brevemente para o Uriah Heep, por duas semanas, para continuar a turnê do grupo por África do Sul e Áustria (com o Deep Purple), cobrindo a ausência do vocalista Bernie Shaw, o qual estava com problemas vocais na época.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

CHEAP TRICK - IN COLOR [1977]

Por Daniel Benedetti
Em 1961, com apenas 12 anos de idade, o jovem guitarrista Rick Nielsen começou a tocar localmente, em Rockford, Illinois, nos Estados Unidos, usando uma coleção cada vez maior de guitarras raras e valiosas. Ele formou várias bandas locais com nomes como The Boyz e The Grim Reapers.
Já Brad Carlson, o qual mais tarde ficaria conhecido como Bun E. Carlos, tocou em uma banda rival na mesma cidade de Rockford, chamada The Pagans.
Finalmente, no ano de 1967, Nielsen formou um grupo chamado ‘Fuse’ com o músico Tom Peterson, mais tarde conhecido como Tom Petersson, o qual havia tocado em mais uma banda local chamada The Bo Weevils. O Fuse lançou um álbum autointitulado para a Epic Records, em 1970, mas que foi completamente ignorado. Frustrado por sua falta de sucesso, o Fuse recrutou os dois membros restantes de um conjunto chamado Nazz, em 1970, e acabou tocando em todo o Centro-Oeste norte-americano, durante 6 a 7 meses, sob os dois nomes, Fuse ou Nazz, dependendo de onde eles se apresentavam. Com Bun E. Carlos assumindo a bateria, o Fuse mudou-se para Filadélfia, em 1971. Eles passaram a se chamar ‘Sick Man of Europe’, entre 1972 e 1973. Depois de uma turnê pela Europa em 1973, Nielsen e Petersson retornaram a Rockford e se reuniram novamente com Carlos.
Rick Nielsen
Em 1973 o Cheap Trick foi formado. Randy “Xeno” Hogan (Crossfire) foi o vocalista original do grupo. Ele deixou a banda logo após a sua formação e foi substituído pelo vocalista Robin Zander. O nome foi inspirado pela presença da banda em um show do Slade, onde Petersson comentou que o grupo usava “every cheap trick in the book” (cada truque barato no livro) como parte de seu show.
A banda gravou (com Hogan), uma demo, “Hot Tomato”, em meados de 1974, partes do que se tornaria “I’ll Be with You Tonight”, que foi inicialmente nomeada de “Tonight, Tonight” (e com uma estrutura ligeiramente diferente), e ainda “Takin’ Me Back”. Com Robin Zander, agora nos vocais, o grupo gravou sua primeira demo oficial em 1975 e tocou nos mais diversos locais (como pistas de boliche) ao redor do meio-oeste dos Estados Unidos. O conjunto assinou contrato com a Epic Records no início de 1976. Tom Werman, da A&R, acabou cedendo à insistência do produtor Jack Douglas, que havia visto a performance do grupo em um show em Wisconsin.
Já em 1976, Jack Douglas produziu o primeiro álbum do Cheap Trick, cujo nome seria homônimo ao grupo. Cheap Trick foi lançado em fevereiro de 1977 e, embora seja considerado um dos melhores álbuns do Cheap Trick por seus fãs, o disco de estreia da banda não foi um grande sucesso comercial. Em termos das principais paradas de sucesso, ele passou praticamente em branco, não causando maiores repercussões. Conquanto bem recebido pela crítica, o álbum não foi bem-sucedido em termos de vendas. O single “Oh, Candy” falhou em entrar nas paradas. No entanto, a banda começou a desenvolver uma base de fãs no Japão e “ELO Kiddies” foi um sucesso na Europa.
Ainda em 1977, o Cheap Trick se reuniria no estúdio Kendun Recorders, sob a produção de Tom Werman, para gravar seu segundo álbum: In Color. Robin Zander nos vocais e guitarra base, Rick Nielsen na guitarra solo, Tom Petersson no baixo e Bun E. Carlos na bateria era a formação do grupo.
Ao contrário da estreia autointitulada da banda, In Color apresenta uma produção mais polida, na esperança de causar um impacto comercial. Enquanto o líder da banda, Rick Nielsen, sentiu que o álbum pode ter perdido um pouco do seu poder devido à produção mais estratificada de Tom Werman, o trabalho demonstra o lado mais melódico do conjunto que foi parcialmente perdido na estreia.
Petersson, Carlos, Nielsen e Zander
“Hello There” é uma faixa bem curta, sendo um Rock intenso, baseado em um ótimo riff de Rick Nielsen e vocais bem agressivos de Robin Zander. “Big Eyes” é outra música com um riff marcante e a guitarra afiada de Rick Nielsen é o grande destaque, além de possuir um refrão contagiante. “Downed” é um Rock com uma melodia cativante e, se não soa tão pesada, compensa com ritmo e intensidade.
“I Want You to Want Me” possui um inegável atrativo Pop, trazendo uma sonoridade suave, mas, simultaneamente, repleta de balanço — e com vocais criativos de Zander. “You’re All Talk” se apresenta com mais um criativo riff de Nielsen, que me lembra do ZZ Top, cheia de um groove adorável, sendo uma das melhores canções do álbum. Outro Rock atraente está na suave “Oh Caroline”, a qual tem na bateria de Bun E. Carlos um de seus destaques. “Clock Strikes Ten” bebe na riquíssima fonte do Rock cinquentista, com inspiração em Little Richard, mas com um peso extra.
“Southern Girls” traz novamente um flerte deliberado com musicalidades mais suaves e pop’s, mas com a criatividade do Cheap Trick em alta, constituindo-se uma canção agradável. “Come On, Come On” é outro Rock com pegada clássica, influência sessentista e uma dose adequada de peso. Para encerrar o trabalho, a bela “So Good to See You” continua com a pegada de sua antecedente, contando com o bom trabalho do guitarrista Nielsen. As letras das faixas apresentam uma das ‘marcas registradas’ do grupo: o seu bom humor!
“I Want You to Want Me” e “Southern Girls” foram lançadas como singles, mas não repercutiram nas principais paradas de sucesso (EUA e Reino Unido). No entanto, “I Want You to Want Me” e “Clock Strikes Ten” viraram verdadeiras ‘febres’ no Japão, onde a banda estourou!
In Color atingiu apenas a 73ª posição da principal parada norte-americana de álbuns, a Billboard 200, mas ficou com o 30º lugar da parada japonesa.
Se na época de seu lançamento, In Color não fez muito barulho, hoje a situação é diferente. O posterior sucesso comercial do Cheap Trick trouxe reconhecimento tardio à obra que, em 2001, já superava a casa de 1 milhão de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos. A prova definitiva da qualidade de In Color viria em 2003, quando a revista norte-americana Rolling Stone colocou o disco na 443ª colocação de sua lista 500 greatest albums of all time.
Tracklist:
  1. Hello There
  2. Big Eyes
  3. Downed
  4. I Want You to Want Me
  5. You’re All Talk
  6. Oh Caroline
  7. Clock Strikes Ten
  8. Southern Girls
  9. Come On, Come On
  10. So Good to See You

segunda-feira, 1 de julho de 2019

THE DOOBIE BROTHERS - THE DOOBIE BROTHERS [1971]

Por Daniel Benedetti
Em um momento ainda incerto, o baterista John Hartman partiu em direção à Califórnia com o intuito de conhecer o guitarrista Skip Spence, da banda Moby Grape, e participar de uma reunião do grupo (que não aconteceria). Mas a viagem de Hartman não foi totalmente infrutífera, como se verá. Spence apresentou o baterista ao cantor, compositor e guitarrista Tom Johnston e ambos formaram o núcleo de um novo conjunto, o qual foi batizado de ‘Pud’.
O Pud experimentou diversos ‘line ups’ (eventualmente com a participação de Spence), variando estilos musicais e sonoridades, trabalhando por algum tempo com uma seção de metais. Entretanto, Johnston e Hartman acabaram, na maior parte desta época, apresentando-se com o formato ‘Power Trio’, junto com o baixista Greg Murphy, especialmente na cidade e nos arredores de San Jose, na Califórnia.
Por volta de 1970, Johnston e Hartman se uniriam ao cantor, guitarrista e compositor Patrick Simmons e ao baixista Dave Shogren. Simmons era um talentoso músico, especialmente na técnica conhecida como fingerstyle, cuja abordagem ao instrumento complementava perfeitamente o dedilhado rítmico de Johnston. Além disso, Patrick pertenceu a vários grupos da área e também atuou como artista solo. Enquanto ainda tocava localmente, em San Jose, o grupo adotou o nome ‘Doobie Brothers’. O músico Keith ‘Dyno’ Rosen, amigo da banda, surgiu com o nome depois que o conjunto mostrou dificuldade em se batizar por conta própria.
Detalhes da foto da capa
De acordo com Tom Johnston, Rosen disse: “Por que vocês não se chamam de Doobie Brothers porque estão sempre fumando maconha?” (Tom Johnston, ao jornal Minnesota Daily, em 04/04/2013). Hartman afirmou que não estava envolvido com a escolha do nome e não sabia que ‘doobie’ era referência a um baseado de maconha até que Rosen contasse a ele. Todos na banda concordaram que “Doobie Brothers” era um nome ‘idiota’ e que pretendiam usá-lo apenas para algumas apresentações, até que tivessem algo melhor, o que nunca aconteceu.
Aos poucos, a The Doobie Brothers melhorou sua performance, ao se apresentar por todo o norte da Califórnia, em 1970. Ela atraiu um público particularmente forte entre os Hells Angels locais e fazia um show recorrente, em um dos locais favoritos dos motociclistas, o Chateau Liberté, em Santa Cruz mountains, tocando até o verão norte-americano de 1975, mesmo depois da fama. Foi através de um conjunto energético de ‘demos’ que o grupo ganhou um contrato com a gravadora Warner Bros. Records.
Primeiro show sob o nome The Doobie Brothers
Entre novembro e dezembro de 1970, no Pacific Recording Studios, em San Mateo, na Califórnia, o The Doobie Brothers se reuniu para gravar sua autointitulada estreia. A produção ficou a cargo de Lenny Waronker e do famoso Ted Templeman. A banda, então, era formada Tom Johnston (guitarra, gaita, piano e vocais), Patrick Simmons (guitarra e vocais), Dave Shogren (baixo) e John Hartman (bateria). O álbum foi lançado em 30 de abril de 1971.
“Nobody” abre o disco com uma musicalidade repleta de swing e balanço, contando com ótimos vocais de Johnston e uma áurea sessentista muito bem-vinda. O refrão é ótimo, mostrando belas harmonias vocais. “Slippery St. Paul” já possui uma pegada Country substancial e, novamente, cativantes harmonias vocais, em um clima festivo. “Greenwood Creek” mantém a pegada Country/Boogie do álbum, com ótimos vocais e uma sonoridade suave e melodiosa, com a gaita de Johnston como protagonista. “It Won’t Be Right” mantém o ritmo Country e quase acústico do disco, desta feita com vocais mais ‘agressivos’ de Johnston. “Travelin’ Man” fecha o lado A com uma proposta mais bluesy e o baixo de Shogren mais proeminente.
Selo do vinil americano
“Feelin’ Down Farther” abre o lado B com uma sonoridade que é um prenúncio do tipo de som que traria o sucesso comercial ao The Doobie Brothers, sendo uma faixa deliciosa. “The Master” possui um clima acústico e consideravelmente mais contido, com a bateria de Hartman mais presente. “Growin’ a Little Each Day” conta com um aspecto Boogie sessentista muito divertido. A versão para “Beehive State”, de Randy Newman, é a faixa mais pesada até o momento no álbum, com as guitarras em estado efervescente e um ótimo solo. “Closer Every Day” possui um clima mais contido e denso, em um claro contraste com o resto do disco. A pequenina “Chicago” é um Boogie Rock que encerra o trabalho.
Compacto de “Nobody”
Três singles foram lançados para promoverem o álbum: “Beehive State”, “Travelin’ Man” e “Nobody”, sendo que apenas este acabou conquistando a modestíssima 58ª posição da parada norte-americana desta natureza (e apenas em 1974, após ser relançada com o estouro do grupo nos Estados Unidos).
O disco de estreia The Doobie Brothers não emplacou e vendeu pouco. É verdade que o álbum sofre com uma produção ruim e abafada, não permitindo que boas canções como “Nobody” e “Greenwood Creek”, algumas das joias de Tom Johnston, pudessem brilhar. No entanto, deve-se ressaltar que o trabalho apresenta uma banda talentosa e em busca de sua identidade musical. Lampejos do auge do The Doobie Brothers são ouvidos em “Feelin’ Down Farther”, mas o sucesso seria encontrado já em seu segundo álbum, Toulouse Street, de 1972, que contaria com o ‘hit’ “Listen to the Music”.
Capa traseira do álbum de estreia
Tracklist
1. Nobody
2. Slippery St. Paul
3. Greenwood Creek
4. It Won’t Be Right
5. Travelin’ Man
6. Feelin’ Down Farther
7. The Master
8. Growin’ a Little Each Day
9. Beehive State
10. Closer Every Day
11. Chicago