quarta-feira, 26 de junho de 2019

Megadeth - Hangar 18

Por Daniel Benedetti
“Hangar 18” é a segunda canção do álbum Rust in Peace, o quarto de estúdio da banda norte-americana Megadeth e que foi lançado em 24 de setembro de 1990. Desde seu lançamento, a música se tornou um clássico do grupo e possui uma curiosa temática, a qual será abordada neste texto.
Os créditos de composição da faixa foram dados ao líder do Megadeth, o vocalista e guitarrista Dave Mustaine, mas algumas fontes citam que o baterista da banda na época, Nick Menza, poderia ter contribuído com as letras.
A temática envolta às letras de “Hangar 18” envolve conspirações ufológicas, segredos militares e visitas alienígenas à Terra. Uma possível inspiração para a canção foi o filme de mesmo nome, Hangar 18, de 1980, dirigido por James L. Conway e estrelado por Darren McGavin e Robert Vaughn.
Em linhas gerais, Hangar 18 é um filme sobre um acobertamento governamental após um incidente envolvendo um OVNI e um Ônibus Espacial. Um satélite, recém-lançado do orbitador, colide com um objeto não identificado que, depois de ser visto em um radar (em movimento a grande velocidade), posicionou-se um pouco acima do ônibus espacial. A colisão mata um astronauta na baía de lançamento. Os eventos são testemunhados por Bancroft e Price, os astronautas a bordo. Depois de retornar à Terra, os dois são imediatamente censurados quando tentam discutir o que aconteceu. O baterista Nick menza teria assistido ao filme e isto o inspirara a criar a música.
O Hangar 18 está localizado na Base Wright-Patterson, da Força Área Norte-Americana, situada a leste de Dayton, no estado de Ohio. Esta Base foi sede de um projeto denominado Project Sign (Project Grudge em 1949, Project Blue Book em 1952) que, a grosso modo, seria um serviço de inteligência para investigações de objetos voadores não identificados (OVNI) e cujos relatórios teriam começado em julho de 1947.
Em 1947, ocorreu o chamado Incidente Roswell.
Em meados de 1947, um balão das Forças Aéreas do Exército dos Estados Unidos caiu em um rancho perto de Roswell, no estado norte-americano do Novo México. Após o amplo interesse inicial no ‘disco voador’, o exército dos EUA declarou que era apenas um balão meteorológico convencional.
O interesse diminuiu até o final dos anos 1970, quando os ufólogos começaram a promover uma variedade de teorias conspiratórias cada vez mais elaboradas, alegando que uma ou mais espaçonaves alienígenas haviam pousado (ou se acidentado) e que os ocupantes extraterrestres haviam sido recuperados pelos militares americanos, os quais, então se engajaram em acobertar os fatos.
Na década de 1990, os militares dos EUA publicaram dois relatórios divulgando a verdadeira natureza do objeto acidentado: um balão de vigilância de teste nuclear do chamado Project Mogul. No entanto, o incidente de Roswell continua a ser de interesse da mídia popular, e as teorias de conspiração em torno do evento persistem. Roswell tem sido descrito como “a mais famosa, mais exaustivamente investigada e mais completamente desmascarada reivindicação ufológica”.
Em 1990, o Megadeth contava com, bem possivelmente, sua melhor formação. Além dos supracitados Mustaine nos vocais/guitarra e Menza na bateria, a banda tinha o baixista David Ellefson e o excelente guitarrista Marty Friedman.
“Hangar 18” já começa arrepiante, em um clima caótico e eletrizante, contando com um ótimo riff e guitarras gêmeas afiadíssimas. De início, as letras abordam a Base Militar onde se encontra o Hangar e os segredos ali guardados:
Welcome to our fortress tall
Take some time to show you around
Impossible to break these walls
For you see the steel is much too strong
Computer banks to rule the world
Instruments to sight the stars
Já o refrão, revela que aquilo que se esconde na Base não deve ser revelado, em um tom claro de ameaça:
Possibly I’ve seen too much
Hangar 18 I know too much
Após o refrão alguns ótimos solos de guitarra continuam embalando uma sonoridade visceral.
A próxima estrofe envolve a guarda de vida extraterrestre e sua manutenção para estudos:
Foreign life forms inventory
Suspended state of cryogenics
Por fim, naquela época, o conhecido humor ácido de Dave Mustaine em suas críticas ao establishment norte-americano é demonstrado, ao denunciar o suposto uso de amnésia seletiva e ao condenar a inteligência militar:
Selective amnesia’s the story
Believed foretold but who’d suspect
The military intelligence
Two words combined that can’t make sense
O refrão é repetido mais uma vez e a canção, a partir de sua metade, torna-se instrumental. Mustaine e Friedman se destacam em solos de guitarra infernais enquanto Nick Menza destrói nas baquetas. “Hangar 18” foi escolhida como single para promover o sensacional Rust in Peace, tendo como maior projeção a 26ª posição da parada britânica desta natureza. O videoclipe sobre a música é bem criativo, contando com a banda tocando em um Hangar e a presença de aliens por toda parte. A faixa é emblemática para o Megadeth e está presente em várias coletâneas e álbuns ao vivo.
A base de Wright-Patterson foi fundamental durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido utilizada como escritório, laboratório, além de fornecer alojamentos e serviços para tropas. Depois da guerra, ela continuou importante não apenas para estudos de fenômenos ufológicos mas também como base técnico-científica. Já o incidente de Roswell permanece, ainda, sob alguma nebulosidade.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

A Fase Prog do Journey

Por Daniel Benedetti
Don’t stop believin’
Hold on to that feelin’
Streetlights people
Claro, quando se fala em Journey comumente se pensa nos versos de “Don’t Stop Believin’”, clássico atemporal do grupo presente no álbum Escape, de 1981, e cantada magistralmente pelo vocalista Steve Perry. Mas, hoje, este texto pretende abordar outra fase da banda. Quando o conjunto ainda lutava por reconhecimento e, óbvio, retorno financeiro. A formação do Journey gira em torno dos nomes de Gregg Rolie e Neal Schon. Rolie havia sido o tecladista e vocalista, além de membro fundador, da banda Santana, conjunto liderado pelo guitarrista mexicano Carlos Santana. Com Carlos, Gregg gravou os álbuns Santana (1969), Abraxas (1970), Santana III (1971) e Caravanserai (1972). Nos 2 últimos discos com o Santana (Santana III e Caravanserai), Gregg teve a companhia do guitarrista Neal Schon, um verdadeiro prodígio, que adentrou o conjunto com apenas 15 anos sob a orientação de Carlos Santana.
Em 1972, Schon chegou a tomar parte na banda chamada Azteca, a qual seguia a pegada latina do Santana, antes de se reencontrar com Gregg Rolie, no ano seguinte. Rolie e Schon se reencontram com o intuito inicial de criarem uma banda de apoio para artistas estabelecidos na chamada Bay Area, na Califórnia, Estados Unidos. O baixista seria Ross Valory, o qual tocou no álbum Rock Love (1971) da The Steve Miller Band, além de ter tomado parte do Frumious Bandersnatch.
Aynsley Dunbar (bateria), Ross Valory (baixo), Gregg Rolie (vocais, teclados) e Neal Schon (guitarra)
E justamente do Frumious Bandersnatch viria o outro guitarrista, George Tickner. Prairie Prince, que integrara o The Tubes, foi o primeiro baterista do conjunto. Inicialmente, o grupo se chamava ‘Golden Gate Rhythm Section’, mas logo os caras decidiram abandonar a ideia de ser banda de apoio. Após um mal sucedido concurso de rádio para escolha do nome do conjunto, o roadie John Villanueva sugeriu o nome Journey. A primeira aparição pública do Journey se deu no Winterland Ballroom, na véspera do Ano Novo de 1973. Prairie Prince voltou para o The Tubes, e, pouco depois, a banda contratou o baterista britânico Aynsley Dunbar, que havia recentemente trabalhado com John Lennon e Frank Zappa.
Em 5 de fevereiro de 1974, o novo line-up fez sua estreia no Great American Music Hall e garantiu um contrato com a gravadora Columbia Records. O Journey chegou a gravar um álbum ‘demo’, antes do lançamento de sua homônima estreia,Journey, com as mesmas músicas, embora em ordem diferente, e com Prairie Prince como baterista. Inclusive, havia faixas adicionais, incluindo algumas peças instrumentais, as quais não chegaram ao produto final, dentre elas a faixa título original do ‘álbum demo’, “Charge of the Light Brigade”.

Journey – 1975
Lançado pela Columbia Records em 1º de abril de 1975, com produção de Roy Halee, Journey é a estreia da banda de mesmo nome. O álbum foi gravado no CBS Studios, em San Francisco, na Califórnia, em novembro de 1974. “Of a Lifetime” intercala passagens mais calmas, as quais contam com vocais agressivos de Rolie, e outras mais pesadas – quase um Hard Rock – em que a guitarra de Neal Schon domina completamente em solos que abusam do feeling. “In the Morning Day” se inicia quase como uma balada, mas vai ganhando força com seu desenrolar, graças aos teclados (ao melhor ‘estilo’ Jon Lord) e guitarras. A instrumental “Kohoutek” fecha o lado A com um aspecto bem mais experimental e ‘anárquico’, com destaque para o trabalho do baterista Aynsley Dunbar. “To Play Some Music” é mais curta e direta, faixa criada com clara intenção de ser um single, e com os teclados de Rolie bastante dominantes. “Topaz” tem um aspecto de ‘Jam Session’ o qual é impossível de não se remeter ao álbum de estreia do Santana, sendo a preferida do disco. “In My Lonely Feeling/Conversations” finca um pé no Blues e outro no Jazz, com seu ar boêmio, estando conectados pelo belo trabalho da guitarra de Neal Schon. “Mystery Mountain” encerra o disco em um Prog Rock que flerta deliberadamente com o Hard.
Journey (1975) não repercutiu em termos de paradas de sucesso e esteve profundamente distante de ser um sucesso comercial. Seu principal single, “To Play Some Music”, não esteve sequer próximo de conseguir alavancar o álbum. No entanto, ficam claras as referências musicais do grupo. Obviamente, o Santana é a mais notória delas, mas bandas como Kansas e Styx também são passíveis de apontamento como influências deste trabalho.
Journey atingiu a mais que irrisória 138ª colocação na principal parada norte-americana de discos.
Faixas:
  1. Of a Lifetime
  2. In the Morning Day
  3. Kohoutek (Instrumental)
  4. To Play Some Music
  5. Topaz (Instrumental)
  6. In My Lonely Feeling/Conversations
  7. Mystery Mountain
Formação:
Gregg Rolie – Vocal, Teclado
Neal Schon – Guitarra Solo
George Tickner – Guitarra Base
Ross Valory – Baixo
Aynsley Dunbar – Bateria

George Tickner deixa o grupo antes do lançamento de seu segundo álbum, Look into the Future, mesmo tendo ajudado a compor 2 canções, “You’re on Your Own” e “I’m Gonna Leave You”. O grupo decide não substituí-lo, permanecendo como um quarteto.

Look into the Future – 1976
O segundo disco de estúdio do Journey foi lançado em 1º de janeiro de 1976, também pela Columbia Records e com produção de Glen Kolotkin e do próprio Journey. As gravações ocorreram novamente no CBS Studios, entre agosto e outubro de 1975. “On a Saturday Nite” traz a guitarra de Schon e os teclados de Rolie bem proeminentes, em uma abordagem Rock bem convencional. A versão para “It’s All Too Much”, de George Harrison e presente no álbum Yellow Submarine, dos Beatles, tem personalidade e conta com a guitarra de Schon muito pesada e vocais agressivos de Rolie. “Anyway” é bastante pesada, com um contundente trabalho do baterista Dunbar e do guitarrista Schon. “She Makes Me (Feel Alright)” é direta e flerta com o Hard Rock, e a pesada guitarra de Schon lembra o Deep Purple. “You’re on Your Own” encerra o lado A com uma sonoridade experimental, jazzy, mas profundamente interessante. O lado B é aberto com a faixa-título, “Look into the Future”, e seus mais de 8 minutos. Trata-se de uma composição maiúscula, com essência Progressiva e influência Hard, e na qual Neal Schon está verdadeiramente endiabrado, com solos irretocáveis, embora Dunbar e Rolie também brilhem. “Midnight Dreamer” continua com a influência progressiva, investindo na alternância de dinâmicas, apostando no criativo teclado de Rolie e em um pulsante baixo de Ross Valory. Encerra o álbum outra longa canção, “I’m Gonna Leave You”, um Prog-Hard-Rock de primeira linha!
“On a Saturday Night” e “She Makes Me (Feel Alright)” foram os singles da vez, mas, ambas, falharam em trazer qualquer repercussão para o disco. Mas Look into the Future acabou melhor em termos de paradas de sucesso, com a 100ª posição na Billboard.
No entanto, Look into the Future é um álbum injustiçado. Muito melhor resolvido que seu antecessor, o álbum traz influências Hard e Progressivas consideráveis, além de músicas melhores trabalhadas e arranjadas, merecendo mais (re)conhecimento e divulgação.
Faixas:
  1. On a Saturday Nite
  2. It’s All Too Much
  3. Anyway
  4. She Makes Me (Feel Alright)
  5. You’re on Your Own
  6. Look into the Future
  7. Midnight Dreamer
  8. I’m Gonna Leave You
Formação:
Gregg Rolie – Vocal, Teclados
Neal Schon – Guitarras
Ross Valory – Baixo
Aynsley Dunbar – Bateria

Como nenhum dos dois primeiros álbuns atingiram vendas significativas, em busca de melhorias para o som do grupo (entenda-se aumento de vendagens), Schon, Valory e Dunbar começaram a fazer aulas de canto em uma tentativa de adicionarem harmonias vocais à voz principal de Gregg Rolie. Além disso, o próximo disco contaria com 2 faixas em que Neal Schon providenciaria os vocais. O grupo também apostaria em canções mais curtas e diretas, intensificando novas abordagens musicais.

Next – 1977
A Columbia Records, em fevereiro de 1977, lançaria o terceiro disco de estúdio do Journey, Next. As gravações ocorreram entre maio e outubro de 1976, nos estúdios His Master’s Wheels, em San Francisco, no estado norte-americano da Califórnia. O próprio Journey ficaria encarregado da produção. “Spaceman” apresenta uma sonoridade bastante suave em uma abordagem consideravelmente mais Pop, embora a guitarra de Schon continue afiada. “People” se mostra com um andamento mais arrastado, conduzido por uma melodia suave e harmonias vocais sutis. “I Would Find You” possui vocais de Neal Schon e se apresenta bastante experimental, sendo construída com uma mescla de Porg e Hard. “Here We Are” é outra canção de andamento mais arrastado e considerável inclinação Pop. O labdo B se inicia com “Hustler”, a menor faixa de Next, e praticamente um Hard Rock ‘a la’ Led Zeppelin. Já em “Next”, o Journey alterna passagens bem pesadas, nas quais a guitarra de Schon está muito presente, com outras suaves, lideradas pelos teclados de Rolie. “Nickel and Dime” ainda guarda boa influência Progressiva, com os músicos investindo em algumas passagens mais técnicas e alternando movimentos. Por fim, “Karma” encerra o álbum com vocais de Schon, alguma dose considerável de peso e uma boa pegada Hard Blues Rock.
“Spaceman” foi escolhida como single e, mais uma vez, nada de repercutir nas paradas de sucesso. Next ficou com, apenas, o 85º lugar na principal parada norte-americana de álbuns, a Billboard 200.
Next investe em uma sonoridade mais acessível e amistosa, embora ainda guarde resquícios dos 2 álbuns iniciais do grupo.
Faixas:
  1. Spaceman
  2. People
  3. I Would Find You
  4. Here We Are
  5. Hustler
  6. Next
  7. Nickel and Dime (Instrumental)
  8. Karma
Formação:
Gregg Rolie – Teclados, Vocal
Neal Schon – Guitarras, Vocal em “I Would Find You” e “Karma”
Ross Valory – Baixo
Aynsley Dunbar – Bateria, Percussão

A vendagem de álbuns do Journey não melhora e a Columbia Records resolve que o grupo deveria mudar seu estilo musical, além de recomendar a adição de um frontman, com quem o tecladista Gregg Rolie poderia compartilhar os vocais principais. O Journey acabou por contratar o vocalista Robert Fleischman e fez uma transição para um estilo mais popular, inspirando-se nos grandes sucessos de bandas como Foreigner e Boston faziam naqueles tempos.
Gregg Rolie, Ross Valory, Aynsley Dunbar, Neal Schon e Robert Fleischman
O Journey saiu em turnê com Fleischman como vocalista em 1977 e, juntos, a nova encarnação da banda escreveu o sucesso “Wheel in the Sky”, mas, no entanto, as diferenças na gestão dos negócios do grupo resultaram na saída de Fleischman, o qual permaneceu por apenas um ano com o grupo.
A saída de Fleischman se revelaria o momento crucial para a vida do Journey. No final de 1977, o grupo contratou Steve Perry como seu novo vocalista, o que se resultou como o fator decisivo para os novos caminhos do conjunto. Perry acrescentou um som limpo e potente vocal à banda, tornando-a um verdadeiro ato popular, como ficaria provado no seu futuro quarto álbum, Infinity, de 1978.