segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Discografias Comentadas - Motörhead (Parte 1)

Por Daniel Benedetti
“We are Motörhead and we play rock ‘n’ roll”.
Esta era a frase com que o líder do Motörhead, “Lemmy”, costumava abrir os seus shows. Se você ama Rock ‘n’ Roll e nunca ouviu falar do Motörhead, você precisa procurar uma orientação melhor. Verdadeira instituição do gênero, este artigo, dividido em 3 partes, vai passear por todos os álbuns de estúdio do grupo além, de maneira resumida, contextualizar cada um de seus lançamentos. Necessário frisar, evidentemente, que as opiniões sobre músicas e álbuns refletem exclusivamente a percepção deste autor.
Ian “Lemmy” Kilmister foi o baixista/vocalista do grupo e, durante toda sua existência, a alma da banda. A história de ambos se confundem e a partir dela que se começará.
Em maio de 1975, Lemmy foi demitido do Hawkwind, após ser preso no Canadá por posse de drogas. Sem grandes perspectivas, ele decide formar um novo grupo, o Motörhead, cujo nome foi inspirado em sua última composição para o Hawkwind. Segundo o próprio Lemmy, ele queria que sua música fosse “rápida e viciante, assim como o MC5”.
Com o guitarrista Larry Wallis e o baterista Lucas Fox, o Motörhead foi contratado pela United Artists e em setembro de 1975 começou as gravações para seu primeiro álbum. Durante este processo de gravação, Fox se revelaria o homem errado para a função, sendo substituído por Phil “Philthy Animal” Taylor, o qual terminaria o disco.
Entretanto, o resultado final da obra desagradou a gravadora United Artists que se recusou a lançar o álbum (trata-se de On Parole, nome sob o qual o disco foi lançado, em 1979). Na sequência, imaginando que uma dupla de guitarristas seria o ideal para o conjunto, ‘Fast’ Eddie Clarke foi recrutado o que culminou com a quase imediata saída de Wallis. Desta forma, como um “Power Trio”, a clássica formação Kilmister/Clarke/Taylor foi reunida.
Com quase nenhum reconhecimento e há poucos minutos de perder Taylor e Clarke, Lemmy conseguiu uma chance de dois dias no Escape Studios, com o produtor Speedy Keen, após uma apresentação no Marquee Club, em Londres, com Ted Carroll, da Chiswick Records. Na oportunidade conquistada, em vez de um single, a banda registrou 11 faixas em 2 dias. Carroll deu-lhes mais alguns dias no Olympic Studios para terminarem os vocais e a banda completou 13 faixas para lançamento de um novo álbum. Primeiramente, a Chiswick lançou o single “Motorhead”, em junho, seguido, então, pelo primeiro álbum da banda. O trabalho artístico da capa apresentava um War-Pig, o rosto com presas que se tornaria um ícone da banda, criado pelo artista Joe Petagno, o qual havia trabalhado com Storm Thorgerson, da Hipgnosis. A mascote do grupo seria batizada como Snaggletooth.

Motörhead [1977]
Lançado em 21 de agosto de 1977, pela Chiswick Records e sob produção de Speedy Keen, Motörhead demonstra uma banda sedenta de sucesso. A abertura, “Motörhead”, já apresenta o característico som do grupo: rápido, simples e pesado com o baixo de Lemmy já presente nos primeiros segundos, em um Rockabilly (com doses extras de peso e de velocidade). “Vibrator” segue na mesma linha da primeira canção enquanto “Lost Johnny” é menos veloz, mais cadenciada e mais pesada, com o baixo de Lemmy mais evidente e um ótimo solo do guitarrista ‘Fast’ Clarke. “Iron Horse – Born To Lose” é um Hard Rock pesadão e bem lento, contando com um solo muito bom da guitarra de Clarke. “White Line Fever” se apresenta como um Blues Metal de primeira qualidade, com destaque para a bateria de ‘Philty Animal’. “Keep Us on the Road” é um Rock mais suave (para os padrões do disco), com um riff bem malemolente, assim como também a ótima “The Watcher”, seguindo este mesmo padrão. Para fechar o álbum, uma versão selvagem para o clássico do Blues, “Train Kept A-Rollin’”. Motörhead teve sua faixa-título lançada como single, sem causar maiores impactos. O disco atingiu a 43ª posição da principal parada britânica e supera a casa de 60 mil cópias vendidas no Reino Unido. Em suma, Motörhead mostra o grupo em busca de uma identidade musical, mas já apresentando um direcionamento com bastante personalidade.

A banda fez uma turnê pelo Reino Unido, em suporte ao Hawkwind, em junho, e depois do final de julho começou a turnê Beyond the Threshold of Pain com o The Count Bishops. Em agosto, Tony Secunda assumiu a gerência da banda, e sua atitude tornou-se tão instável que, em março de 1978, Clarke e Taylor se mandaram e passaram a se apresentarem como ‘The Muggers’, com Speedy Keen e Billy Rath.
Em julho de 1978, a banda voltou para a gerência de Douglas Smith, que conseguiu um contrato para um único single com a Bronze Records. O resultado, “Louie Louie”, foi lançado em setembro daquele ano, alcançando a 68ª posição na parada britânica daquela natureza.
A banda fez uma turnê no Reino Unido para promover o single, gravando para o programa John Peel in session, da BBC Radio 1, em 18 de setembro (essas faixas foram mais tarde lançadas no álbum BBC Live & In-Session, de 2005), e apareceu, pela primeira vez, no famoso programa Top of the Pops, da BBC Television, em 25 de outubro. A Chiswick capitalizou esse novo nível de sucesso ao reeditar o álbum de estreia Motörhead, em vinil branco, através da EMI Records. O sucesso do single levou a banda a estender seu contrato com a Bronze Records, e colocou-a de volta ao estúdio para gravar um novo álbum, desta vez com o produtor Jimmy Miller, no Roundhouse Studios.

Overkill [1979]
Lançado em 24 de março de 1979, através do selo Bronze Records, Overkill é um monólito da música pesada. Produzido por Jimmy Miller (Traffic, The Rolling Stones), o disco é considerado, por parte dos fãs, o melhor trabalho do grupo. A bateria frenética de Phil Taylor e o baixo de Lemmy introduzem a clássica “Overkill”, um verdadeiro hino da banda, em toda sua ferocidade. Destaque-se, também, o trabalho do guitarrista ‘Fast’ Eddie Clarke e os vocais agonizantes de Kilmister. “Stay Clean”, outra canção emblemática, traz um riff um pouco mais cadenciado, num estilo bem rock clássico, mas com o peso que naturalmente o Motörhead impõe a sua sonoridade. A paulada “(I Won’t) Pay Your Price” é seguida por “I’ll Be Your Sister”, outro Rock com a dosagem de peso exata implantada pela seção rítmica. “Capricorn” é outro petardo que apresenta a criatividade de Taylor nas baquetas em uma música com sonoridade sufocante. Outra faixa tradicional do conjunto é “No Class”, perfeita para definir o que é a banda: música direta, sem invenções e com um ótimo ritmo. Pesada e intensa, com a cadência correta, assim é “Damage Case”, contando com um riff excelente e o refrão é excepcional. “Tear Ya Down” possui um riff que remete ao Rock cinquentista, embora com mais poder e vigor. “Metropolis” possui um clima mais sombrio, em ótima atuação vocal de Lemmy, enquanto “Limb From Limb” é um Hard Rock fenomenal, calcado em um riff Bluesy e solos ferozes de Clarke. “Overkill” e “No Class” foram os singles lançados para promoção do disco, conquistando a 39ª e 61ª colocações na parada britânica desta natureza, respectivamente. Já o álbum atingiu a 24ª posição da parada britânica, suplantando a casa de 60 mil cópias vendidas no Reino Unido. Overkill é um dos álbuns mais influentes da história da música mais pesada (está aí o Thrash Metal norte-americano como prova), tanto que a revista alemã Rock Hard o colocou no 340º lugar de sua lista The 500 Greatest Rock & Metal Albums of All Time, de 2005; enquanto a revista britânica Kerrang! trouxe o disco em 46º lugar de sua lista 100 Greatest Heavy Metal Albums of All Time, de 1989.

A turnê ‘Overkill’, pelo Reino Unido, começou em 23 de março de 1979, antes do lançamento do single “No Class” (em junho), que possuía a faixa “Like a Nightmare” no lado B.
A tour Overkill
Durante julho e agosto, com exceção de uma pausa para aparecer no Reading Festival, a banda estava trabalhando em seu próximo álbum, Bomber.

Bomber [1979]
Jimmy Miller retorna ao Roundhouse Studios e ao Olympic Studios, ambos em Londres, para produzir a gravação de Bomber, o qual foi lançado pela Bronze Records em 27 de outubro de 1979. A banda reclamou que não teve tempo para trabalhar as faixas durante seus shows (o que ocorrera em Overkill), além do produtor Jimmy Miller se encontrar totalmente errático, em um ponto de desaparecer completamente do estúdio e ser encontrado adormecido ao volante de seu carro, supostamente cada vez mais sob a influência de heroína. Mesmo assim, Bomber é um dos discos mais amados pelos fãs. Abre o trabalho “Dead Men Tell No Tales”, canção em que é possível sentir a identidade musical do Motörhead. Um riff pesado, direto, embora um pouco mais cadenciado para os padrões da banda. A bateria de Phil Taylor está insana e o baixo de Lemmy dá as cartas. A intensidade do álbum continua pesada na sua segunda canção, “Lawman”, na qual, outra vez, o Motörhead aposta em um ritmo mais cadenciado, mas sem abrir mão de seu peso característico. Outro bom trabalho de Taylor na bateria e os vocais agressivos de Lemmy se casam perfeitamente com o instrumental. Em “Sweet Revenge”, o andamento fica ainda mais lento, embora o peso continue muito presente. O caminhar ‘arrastado’ da canção dá maior destaque ao trabalho de Taylor na bateria enquanto aparece outro inspirado solo da guitarra de Eddie Clarke. Já na quarta faixa do disco, “Sharpshooter”, o conjunto apresenta uma música bastante direta e rápida, capitaneada por um riff muito veloz e um baixo, por parte de Lemmy, bem presente. Em “Poison”, o destaque total é da guitarra de ‘Fast’ Eddie Clarke, brilhando tanto nos solos quanto na base. A marcante introdução de “Stone Dead Forever”, ao baixo de Lemmy Kilmister, é uma das mais conhecidas dentro da discografia do grupo. A canção apresenta um riff simples, mas tão bom quanto contagiante, o ritmo é rápido e intenso; o refrão também se destaca. A música ainda contém um dos melhores solos da guitarra de ‘Fast’ Eddie Clarke. A guitarra está ainda mais pesada em “All The Aces”, abusando de solos que simplesmente ‘cortam’ a canção. Já em “Step Down”, o som se apresenta com uma pegada mais Bluesy, com os vocais feitos pelo próprio Clarke. “Talking Head” é rápida, pesada e muita intensa, bem como a derradeira “Bomber”, contando com a dose corretíssima de peso e transpirando inspiração. A faixa-título foi o único single retirado do disco e conquistou a 34ª posição da principal parada britânica desta natureza. Bomber ficou com a ótima 12ª colocação da parada britânica de discos, superando 60 mil cópias vendidas no país. Bomber é um dos melhores trabalhos do Motörhead e, se não está no mesmo patamar de Overkill, encontra-se em um nível extremamente próximo.

O palco dos shows, nesta fase, contou com um equipamento de iluminação em forma de bombardeiro. Durante a turnê ‘Bomber’, a United Artists reuniu fitas gravadas durante as sessões no Rockfield Studios, do período entre 1975 e 1976, e as lançou como um álbum, On Parole.

On Parole [1979]
Oportunisticamente, a United Artists viu o sucesso do Motörhead e resolveu soltar aquele primeiro material gravado pela banda, ainda com Larry Wallis na guitarra, como um álbum, no final de 1979 (8 de dezembro), e, aquilo que anteriormente não servia, passou a ser útil. As faixas são quase as mesmas que constituíram a estreia oficial do conjunto, Motörhead, mas ainda mais cruas e menos trabalhadas, além da produção deixar a desejar (Fritz Fryer substituiu Dave Edmunds na função). Em geral, faltava a Larry Wallis a agressividade que sobraria em ‘Fast’ Eddie Clark. Quanto às músicas inéditas, “On Parole”, canção de Wallis, é um Rock ‘n’ Roll de base cinquentista, bem como a divertida “City Kids” (também de Wallis), mas ambas sem a pegada do Motörhead. O cover para “Leaving Here”, clássico da Motown, é interessante, com um ritmo mais acelerado. “Folls” é outra música de Wallis, com um jeitão de Rolling Stones e vocais do próprio Wallis (que também canta em “Vibrator”). “Lost Johnny” ainda conta com o baterista original, Lucas Fox, em ação. On Parole atingiu a 65ª posição da principal da parada britânica de discos, mas evidencia ainda uma banda em processo de autoconhecimento, com algumas faixas até intrigantes, mas afastadas da ferocidade que consagraria o conjunto.

Em 8 de maio de 1980, enquanto a banda estava em turnê na Europa, a Bronze Records lançou o EP Ao Vivo, The Golden Years, que vendeu melhor que qualquer um de seus lançamentos anteriores, alcançando o oitavo lugar na parada britânica. A banda, no entanto, preferia o título ‘Flying Tonight’, em referência ao equipamento de iluminação de ‘Bomber’.
Durante os meses de agosto e de setembro de 1980, a banda esteve no Jackson’s Studios, em Rickmansworth, gravando com o produtor Vic Maile. O single “Ace of Spades” foi lançado em 27 de outubro daquele ano, como uma prévia do álbum que surgiria logo depois.

Ace of Spades [1980]
Com uma capa com a banda posando no melhor estilo ‘Velho Oeste’, o disco foi gravado entre 4 de agosto e 15 de setembro de 1980, no Jackson’s Studios, em Rickmansworth, no Reino Unido, sob a produção de Vic Maile (que havia trabalhado com Jimi Hendrix e The Who, por exemplo). Ace of Spades é o marco definitivo de sucesso do Motörhead. O álbum foi lançado em 8 de novembro de 1980, com 12 faixas arrebatadoras. O hino ‘proto-thrash’, “Ace of Spades”, abre o disco em uma das mais brilhantes composições do Motörhead, com o baixo de Lemmy dando um peso absurdo à faixa e ‘Fast’ destroçando nos solos de guitarra. “Love Me Like a Reptile” mantém o pé no acelerador, contando com um riff de guitarra inspirado e ótimos vocais de Kilmister. “Shoot You in the Back” é um pouco menos veloz, mas o peso continua insano, graças ao ótimo riff principal. “Live to Win” traz o baixo de Lemmy ainda mais proeminente, em uma canção que contém um certo balanço em sua intensidade e, novamente, solos arrasadores de Clarke. A deliciosa “Fast and Loose” é praticamente um ‘Blues Metal’, com atuação preciosa de Lemmy nos vocais e um refrão bem legal. O lado A é encerrado pela homenagem “(We Are) The Road Crew”, que celebra os roadies do grupo (e a fase em que Lemmy foi roadie de Jimi Hendrix e da banda The Nice). “Fire, Fire” é uma verdadeira paulada, rápida e furiosa, com Taylor fazendo jus ao apelido ‘Animal’ na bateria. “Jailbait” é mais lenta, mas possui peso e intensidade nas doses precisas, em uma típica construção do Motörhead, com ótimos vocais de Lemmy. O riff inicial de “Dance” é incrível, em uma faixa que faz a fusão do peso do grupo a uma aura rockabilly, de modo cirúrgico. Com pouco mais de 1 minuto e meio, “Bite the Bullet” é uma canção que vai sem rodeios ao ponto, com a sonoridade esperada de uma música assim. Contando com um riff espetacular, a clássica “The Chase Is Better Than the Catch” é um Hard Blues Rock de primeiríssima linha, mas com o inegável DNA do Motörhead, constituindo-se em uma das melhores faixas de toda a discografia do conjunto. Mais uma porrada encerra o disco, “The Hammer”, outra música que antecipa o nascimento do Thrash Metal, com Taylor furioso na bateria. O single “Ace of Spades”, lançado pouco tempo antes do álbum, atingiu o 15º lugar na parada britânica e acabou vendendo bem. O álbum Ace of Spades alcançou a excelente 4ª colocação da principal parada britânica, o ápice entre discos de estúdio da banda, além de bater a casa das 100 mil cópias vendidas no Reino Unido. Além disso, o reconhecimento de sua importância e influência é pleno entre a crítica especializada, com o trabalho sendo listado no livro 1001 Albums You Must Hear Before You DieAce of Spades é um dos melhores álbuns de Rock de todos os tempos.

A Bronze Records comemorou o status de ‘disco de ouro’ de Ace of Spades ao lançar uma edição limitada do álbum em vinil dourado. O Motörhead fez uma aparição no popular programa de TV, Top of the Pops, em novembro daquele ano com “Ace of Spades”, e entre 22 de outubro e 29 de novembro a banda estava em sua turnê ‘Ace Up Your Sleeve’, no Reino Unido, com o apoio dos grupos Girlschool e Vardis.
Para coincidir com o lançamento de Ace of Spades, a Big Beat, que havia herdado o catálogo da Chiswick Records, reuniu quatro faixas não utilizadas nas sessões do Escape Studios em 1977 (para o álbum Motörhead) e as lançou como o EP Beer Drinkers and Hell Raisers, que alcançou a 43ª posição na parada britânica em novembro de 1980.
A banda teve mais sucessos em 1981. O lançamento do EP St. Valentine’s Day Massacre, em colaboração com o Girlschool, que alcançou a 5ª posição na parada britânica de singles em fevereiro; bem como a versão ao vivo da faixa “Motorhead”, que chegou ao sexto lugar da mesma parada em julho.
A canção ao vivo foi retirada de No Sleep ‘to Hammersmith, o extraordinário álbum ao vivo lançado pelo grupo em 27 de junho de 1981 e que alcançou o primeiro lugar na parada de álbuns do Reino Unido em junho. As gravações foram feitas em março de 1981, quando a banda estava em turnê pela Europa, e, na última semana do mês, o grupo realizou a turnê ‘Short Sharp, Pain in the Neck’, no Reino Unido.
De abril a julho, a banda fez uma turnê pela América do Norte, pela primeira vez, como convidados da ‘Blizzard of Ozz’, uma encarnação da banda de Ozzy Osbourne, mas ainda conseguiu aparecer novamente no Top of the Pops, em 9 de julho, para promover o single ao vivo “Motorhead”. A banda começou uma turnê europeia em 20 de novembro, apoiada pelo Tank, e, após a mesma, Clarke produziu o álbum de estreia do Tank, Filth Hounds of Hades, no Ramport Studios, em dezembro e janeiro do ano seguinte.
Entre 26 e 28 de janeiro de 1982, a banda começou a gravar seu novo álbum, produzido no Ramport Studios, antes de se mudar para o Morgan Studios.

Iron Fist [1982]
Gravado entre 26 e 28 de janeiro e durante todo o mês de fevereiro de 1982, no Ramport Studios e no Morgan Studios, Iron Fist seria o último disco com a formação clássica da banda Kilmiste-Clarke-Taylor. ‘Fast’ Eddie Clarke produziria o trabalho, com Will Reid Dick cuidando da parte de engenharia. A Bronze Records lançou o álbum mundialmente, com a Mercury cuidando da emissão na América do Norte, em 17 de abril daquele ano. Vic Maile, o qual produziu Ace of Spades, retornaria para Iron Fist, mas, após poucas gravações e algumas divergências, acabou deixando o projeto, com Clarke assumindo o posto. A faixa-título, “Iron Fist”, é sensacional, com toda a fúria do Motörhead expressada em um riff incrível e um refrão inacreditavelmente empolgante. Os solos de guitarra de Clarke são brutais. “Heart of Stone” mantém o pé no acelerador, com o baixo de Lemmy bastante proeminente e a bateria frenética de Taylor ditando o ritmo. “I’m the Doctor” traz a ótima competência do grupo em fundir Rockabilly com o peso do Metal e vocais diferentes de Lemmy. “Go to Hell” é metal até o osso, contando com um dos riffs mais pesados de toda a discografia do grupo, lembrando mesmo até bandas da NWOBHM. “Loser” já é um pouco mais cadenciada, embora mantenha o peso, com relevância para as grandes abordagens da guitarra de Clarke. “Sex & Outrage” é daquelas clássicas faixas do Motörhead, curta, veloz e insanamente agressiva. “America” abre o lado B com um Hard Blues Rock de alta competência, com um riff quase ‘zeppeliano’ e vocais iluminados de Lemmy. “Shut It Down” é mais uma pancada certeira do disco, com groove acentuado e guitarras muito afiadas. O baixo de Lemmy volta a dar as cartas em “Speedfreak” em mais uma canção veloz e pesada em que o destaque é a seção rítmica. Já em “(Don’t Let ‘Em) Grind Ya Down”, o conjunto desacelera, com um riff principal muito bom e extremamente agressivo, assim como o refrão e um dos melhores solos de Clarke. “(Don’t Need) Religion” é muito Rock ‘n’ Roll, cadenciada e furiosa, com vocais criativos de Lemmy e bom trabalho das guitarras. “Bang to Rights” encerra o álbum com peso e velocidade, em mais uma música curtinha e que vai certeira ao ponto. O single “Iron Fist” foi bem e atingiu o 29º lugar da principal parada britânica desta natureza, enquanto “Go to Hell” acabou não repercutindo. O álbum Iron Fist manteve o sucesso do grupo, alcançando a 6ª posição da principal parada britânica de discos e beliscando, pela primeira vez, a correspondente norte-americana, a Billboard 200, mesmo com a modestíssima 174ª colocação. Em termos de vendas, Iron Fist novamente superou a casa de 60 mil cópias vendidas no Reino Unido. Em suma, mesmo possuindo uma produção extremamente linear, a qualidade de suas composições faz de Iron Fist um álbum essencial dentro da discografia do Motörhead, ocupando a prateleira de cima dentro de seus trabalhos.

A formação continuou na turnê ‘Iron Fist UK’, entre 17 de março e 12 de abril, e durante a primeira turnê da banda na América do Norte de 12 de maio até o último compromisso de Clarke, no New York Palladium, em 14 de maio de 1982. A gota d’água das tensões entre Lemmy e Clarke teve como consequência sua saída da banda durante a gravação do EP Stand By Your Man, uma versão cover do clássico de Tammy Wynette, em colaboração com Wendy O. Williams and the Plasmatics. Clarke sentiu que a música comprometia os princípios da banda, recusando-se a tocar na gravação e se demitindo, posteriormente formando sua própria banda, a Fastway.
Lemmy e Taylor fizeram numerosos telefonemas para encontrar um guitarrista, incluindo um para Brian Robertson, anteriormente no Thin Lizzy, que estava gravando um álbum solo no Canadá. Ele concordou em ajudar e completar a turnê. Robertson assinou um contrato de um álbum, resultando em Another Perfect Day, de 1983, e os dois singles, “Shine” e “I Got Mine”.

Another Perfect Day [1983]
Another Perfect Day foi gravado no Olympic Studios e no Eel Pie Studios, ambos em Londres (Inglaterra), entre os meses de fevereiro e de março de 1983. A produção ficou a cargo de Tony Platt e o disco foi lançado pela Bronze Records em 4 de junho daquele ano. Brian Robertson chegou ao grupo e, como se verá, deixou sua marca. “Back at the Funny Farm” até começa com Taylor espancando a bateria e o baixo indomável de Lemmy, mas a abordagem das guitarras de Robertson remetem imediatamente à sonoridade do Thin Lizzy, embora, o peso e velocidade sejam muito Motörhead. “Shine” dá uma amenizada no peso, apostando em uma sonoridade um pouco mais malemolente, com vocais até (um pouco) mais suaves de Lemmy, em uma construção diferente para os padrões da banda. “Dancing on Your Grave” possui uma musicalidade bem oitentista, flertando com o Hard Rock da época, mesmo com o DNA do Motörhead se fazendo presente. A guitarra de Robertson nesta música é incrível. “Rock It” possui um ritmo acelerado, sendo uma faixa com uma pegada Rockabilly, mas com uma referência Hard, inclusive com passagens mais amenas, deveras interessantes, durante os solos de guitarra de Robertson. “One Track Mind” é uma canção bem diferente para o Motörhead da época, com uma cadência na qual o conjunto não apostava em trabalhos anteriores, mas, mesmo assim, revela-se uma música fascinante, com ótima atuação de Lemmy (tanto nos vocais quanto no baixo) e Robertson preciso nas seis cordas. O lado B é aberto com a faixa-título, “Another Perfect Day”, a qual continua com o aspecto Hard Rock, mas com mais intensidade e rapidez, enquanto a guitarra de Robertson faz misérias! “Marching Off to War” é uma música mais com a cara do Motörhead, bem pesada e veloz, com muita intensidade e vocais agressivos de Lemmy. “I Got Mine” possui uma cara mais setentista, embora a identidade musical do grupo esteja impressa na canção, com relevância para a guitarra de Robertson. “Tales of Glory” é aquela música rápida e pesada do Motörhead, que flerta com o Rock cinquentista, com um sabor muito especial. “Die You Bastard!” encerra o trabalho com uma musicalidade mais padrão do grupo, com muito peso e velocidade, de maneira muito intensa e a guitarra de Robertson quebrando tudo! “Shine” e “I Got Mine” foram lançadas como singles, com elas atingindo, respectivamente, a 59ª e a 46ª posições da principal parada britânica desta natureza. Com uma parte do público torcendo o nariz para o resultado final, Another Perfect Day vendeu menos que seus antecessores e atingiu a 20ª colocação da principal parada de álbuns do Reino Unido, beliscando a humilde 153ª da correspondente norte-americana. No entanto, entende-se que Another Perfect Day é um trabalho diferente dentro da discografia do Motörhead, mas que é extremamente subestimado, pois seu nível de qualidade é bem elevado.

Desta maneira, encerra-se a primeira parte da Discografia Comentada do Motörhead, reiterando-se o convite para o leitor acompanhar a segunda parte que será publicada em breve.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

BLIND GUARDIAN - TRAVELER IN TIME [1990]

Por Daniel Benedetti
“Traveler in Time” é a faixa de abertura do terceiro álbum de estúdio da banda alemã Blind Guardian e que foi lançado em 2 de outubro de 1990. Neste texto, vai-se mostrar um pouco da inspiração para a canção.
A temática de “Traveler in Time” é baseada na obra chamada Dune (Duna, em português), do escritor e jornalista norte-americano Frank Herbert.
Frank Herbert nasceu em 8 de outubro de 1920, em Tacoma, nos Estados Unidos. Com uma infância de pobreza, Frank começou a trabalhar no jornal Glendale Star aos 19 de idade. Ele serviu nas Seabees da Marinha dos Estados Unidos, por seis meses, como fotógrafo, durante a Segunda Guerra Mundial e depois recebeu uma alta médica. Depois da guerra, Herbert frequentou a Universidade de Washington, onde conheceu Beverly Ann Stuart, em uma aula de redação criativa em 1946. Eles eram os únicos estudantes que haviam vendido qualquer trabalho para publicação; Herbert havia comercializado duas revistas de aventuras para revistas, a primeira para a revista Esquire em 1945; e Stuart vendera uma história para a revista Modern Romance. Eles se casaram em Seattle, em 20 de junho de 1946, e tiveram dois filhos.
Em 1949, Herbert e sua esposa se mudaram para a Califórnia, para trabalhar na Santa Rosa Press-Democrat. Lá eles fizeram amizade com os psicólogos Ralph e Irene Slattery, os quais apresentaram Herbert ao trabalho de vários pensadores que influenciariam em sua escrita, incluindo Freud, Jung, Jaspers e Heidegger; eles também familiarizaram Herbert com o zen-budismo.
Herbert não se formou na universidade; de acordo com seu filho Brian, ele queria estudar apenas o que lhe interessava e, portanto, não completava o currículo exigido. Frank retornou ao jornalismo e trabalhou no Seattle Star e no Oregon Statesman, além de ser escritor e editor da revista California Living, por uma década.
Frank Herbert
A primeira história de ficção científica de Herbert, Looking for Something, foi publicada na revista Startling Stories, na edição de abril de 1952, na época, editada mensalmente por Samuel Mines. Mais três de suas histórias apareceram em 1954, nas revistas Astounding Science Fiction Amazing Stories.
A carreira de Herbert, como romancista, começou em 1955 com a publicação em série de Under Pressure in Astounding, a partir de novembro de 1955; depois sendo publicado como um livro da editora Doubleday, The Dragon in the Sea. A história explorou a sanidade e a loucura no ambiente de um submarino do século 21 e previu conflitos mundiais sobre o consumo e a produção de petróleo. O trabalho acabou sendo um sucesso crítico, mas não um grande comercial. Durante esse período, Herbert também trabalhou como redator de discursos para o senador republicano Guy Cordon.
Dune é um romance de ficção científica, publicado originalmente como duas séries separadas na revista Analog.
Herbert começou a trabalhar em Dune em 1959. Ele pode se dedicar inteiramente à sua carreira de escritor, pois sua esposa voltou a trabalhar em tempo integral, como publicitária de lojas de departamento, tornando-se a provedora da casa durante os anos 60. Herbert contou a Willis E. McNelly que o romance se originou quando ele deveria fazer um artigo de revista sobre as dunas de areias do Oregon (perto de Florence). Ele ficou muito envolvido e acabou com muito mais matéria-prima do que o necessário para um artigo. Este, nunca foi escrito, mas plantou a semente que levou a Dune.
Dune levou seis anos, entre pesquisa e escrita, para ser completada e foi muito mais longa que as obras de ficção científica comercial da época eram. A revista Analog (a renomeada Astounding) publicou-a em duas partes, compreendendo oito fascículos, Dune World, de dezembro de 1963, e Prophet of Dune, em 1965, mas o material foi rejeitado por quase vinte editoras de livros.
A capa de Tales from the Twilight World
Situado em um futuro distante, em meio a uma sociedade feudal interestelar na qual várias casas nobres controlam os feudos planetários, Dune conta a história do jovem Paul Atreides, cuja família aceita a administração do planeta Arrakis. Enquanto o planeta é um deserto inóspito e escassamente povoado, simultaneamente, é a única fonte do melange, ou o “the spice”, uma droga que prolonga a vida e aumenta as habilidades mentais. Como o melange só pode ser produzido em Arrakis, o controle do planeta é uma tarefa cobiçada e perigosa.
A história explora as interações multicamadas de política, religião, ecologia, tecnologia e emoção humana; e em como as facções do império se enfrentam em uma luta pelo controle de Arrakis e suas especiarias. Em 1990, a banda alemã Blind Guardian se reuniu no Karo Studios, com produção de Kalle Trapp, na Alemanha, para gravar seu terceiro álbum de estúdio, Tales from the Twilight World.
Hansi Kürsch (Vocal e Baixo), André Olbrich (Guitarra solo), Marcus Siepen (Guitarra base) e Thomas ‘Thomen’ Stauch (Bateria) formavam o grupo alemão.
Um tom épico, embalado pela bateria de Stauch e com vozes em coro, prenuncia a nuance da canção:
The Morning Sun of Dune
The Morning Sun of Dune
The holy war’s
Waiting for
The morning sun
A música se desenvolve em um power metal típico, rápido e bem pesado, com ótima atuação do vocalista Kürsch. As letras associam o planeta Arrakis e o deserto de emoções:
The morning sun of Dune
There’s no tomorrow
The apparation of this land and it’s dream
Makes me feel I’ve seen it before
I can taste there’s life
Everywhere you can find
In the desert of my life
I see it again and again
Um belo solo de André Olbrich introduz a ponte. A letra revela o prenúncio de uma guerra:
And again, again, again, again
dark tales has brought the Dijahd
like whispering echos in the wind
and I’m a million miles from home
O refrão se refere ao protagonista do romance, Paul Atreides:
Traveler in Time
Knowing that there’s no rhyme
O peso e a intensidade continuam em larga escala enquanto as letras refletem a união de Paul ao povo Fremen – e a guerra, ao mesmo tempo em que descobre seus poderes premonitórios. Sardokaurs refere-se a força militar fiel ao Imperador:
The morning sun is near
First light of dawn is here
The morning sun is near again
The Fremen sing that
Their kingdom will come
And I’m the leading one
Battlefields on our crusade
Filled with Sardokaurs
Killing machines crying
In raising fear they’re hiding
Where do we go now?
So where is the way?
When I’m a million miles from home
Após mais uma repetição do refrão, a música entra em um trecho instrumental relativamente longo, no qual o peso permanece presente, mas as doses de melodias também são generosas. A guitarra de Olbrich traz solos muito bons, enquanto Stauch “castiga” a bateria.
Na nova estrofe, a letra desenvolve os dilemas que o protagonista de Dune tem com o fato de poder prever o futuro e viver a eterna sensação de ‘déjà-vu’:
The morning sun I feel
All pain and sorrow
The apparation of my words in these days
Makes me feel I’ve told them before
All my plans will come true
I’ll controll destiny
In the desert of my life
I’ve seen it again and again
A musicalidade continua com o vigoroso power metal do Blind Guardian, bem como as letras discutem o fardo de Paul em encerrar os conflitos na qualidade de líder:
By my dreams I must find a way
To stop the raging war
I’ve to choose now
I will leave
My body and seek
And time will stand still
When I’ve to leave
My body and find
A way back to the world I love
When I’m a million miles from home
O refrão é repetido mais uma vez e a faixa se desenrola para o final, com a marca registrada do início da carreira do Blind Guardian, o peso e a melodia de mãos dadas, em um molde power metal.
Tales from the Twilight World continua como um dos melhores trabalhos do Blind Guardian assim como “Traveler in Time” é uma de suas mais impactantes canções. Sterling E. Lanier, um editor da Chilton Book Company, leu os seriados de Dune e ofereceu um adiantamento de 7.500 dólares, mais royalties futuros, pelos direitos de publicá-los como um livro de capa dura. Dune logo foi um sucesso de crítica. Ganhou o Prêmio Nebula de Melhor Romance, em 1965, e dividiu o Prêmio Hugo em 1966 com … And Call Me Conrad, de Roger Zelazny. Dune foi o primeiro grande romance ecológico de ficção científica, abrangendo uma infinidade de temas inter-relacionados e múltiplos pontos de vista de personagens, um método que percorreu todo o trabalho de Herbert.
Cartaz do filme de 1984
No final de 1972, Herbert havia se aposentado dos jornais e se tornado um escritor de ficção em tempo integral. Durante as décadas de 1970 e 1980, ele desfrutou de considerável sucesso comercial como autor. Neste período, ele escreveu inúmeros livros e impulsionou ideias ecológicas e filosóficas.
Herbert escreveu cinco sequências para o seu romance DuneDune MessiahChildren of DuneGod Emperor of DuneHeretics of Dune, e Chapterhouse: Dune (No Brasil, respectivamente: O Messias de Duna (1969), Os Filhos de Duna (1976), O Imperador-Deus de Duna (1981), Os Hereges de Duna (1984) e As Herdeiras de Duna (1985)).
Dune e a saga Dune constituem uma das séries e romances de ficção científica mais vendidos no mundo; Dune, em particular, recebeu ampla aclamação da crítica e é frequentemente considerado um dos melhores romances de ficção científica de todos os tempos, se não o melhor.
Dune exerceu grande influência na cultura pop ocidental. Um filme, Dune, dirigido por David Lynch, foi lançado em 1984 e está prevista uma nova adaptação para 2020, desta feita com direção de Denis Villeneuve.
Na música, há várias obras inspiradas no livro. Chronolyse, de 1978, do francês Richard Pinhas e Visions of Dune, de 1979, do também francês Zed, são alguns exemplos de álbuns inspirados em Dune.
Em 1983, o Iron Maiden compôs uma música com nome provisório de ‘Dune’ e pediu autorização a Frank Herbert para batizá-la. A resposta foi: “Frank Herbert não gosta de bandas de rock, particularmente bandas de heavy rock, e especialmente bandas como Iron Maiden”. A canção foi batizada de “To Tame a Land”.
Após a morte de sua esposa Beverly, Herbert se casou com Theresa Shackleford, em 1985, ano em que publicou Chapterhouse: Dune, que amarrava muitos dos tópicos da história da saga. Este seria o último romance individual de Herbert (a coleção Eye foi publicada naquele ano, e Man of Two Worlds foi publicado em 1986). Ele morreu de uma embolia pulmonar maciça, enquanto se recuperava de uma cirurgia de câncer pancreático, em 11 de fevereiro de 1986, aos 65 anos.
Olbrich, Kürsch, Siepen e Stauch

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

IDLE HANDS - MANA [2019]

Por Daniel Benedetti
O Idle Hands é uma banda norte-americana da cidade de Portland, formada em 2017 pelo ex-baixista do grupo Spellcaster, Gabriel Franco, mas que agora assume os vocais e as composições neste novo projeto. Em 2018, o conjunto lançou em EP de estreia, Don’t Waste Your Time, e, neste momento, em 10 de maio de 2019, através do selo Eisenwald, traz seu álbum de estreia, Mana.
O disco foi gravado no Sharkbite Studios, em Oakland, Califórnia, e no Falcon Studios, em Portland, Oregon (ambas nos Estados Unidos), entre novembro de 2018 e janeiro de 2019. A produção ficou a cargo do próprio Gabriel Franco, do guitarrista Sebastian Silva e do engenheiro de som, Gabe Johnson. Mana se divide em 11 canções, com uma duração total de pouco mais de 40 minutos, em uma audição fácil e prazerosa.
“Nightfall” é uma faixa pesada, com refrão pegajoso, mas oscila entre momentos de rapidez e lentidão. Há uma aura do Blue Öyster Cult nesta canção. “Jackie” é mais melodiosa, com um refrão cativante, em uma linha tênue entre o Rock e o Pop, mas construída com sabedoria. “Cosmic Overdrive” segue com a mistura de peso e melodia, de modo muito criativo e um bom trabalho da guitarra. “Don’t Waste Your Time” é mais calma e lenta, apostando em uma linda e sombria melodia e o solo de guitarra é muito legal.
“Give Me to the Night” flerta com o Power Metal, em uma música direta e com andamento muito veloz. Em “Blade and the Will” o grupo volta a se dedicar a um rock simples e com a dose certa de peso, com a guitarra de Sebastian Silva brilhando. “Dragon, Why Do You Cry” continua alternando passagens leves e pesadas, mas sempre repletas de melodias cativantes, com os vocais se casando perfeitamente com a intensidade exigida. “Double Negative” flerta mais com o Metal, contando com uma musicalidade mais agressiva, mas nada que beire forçado.  “It’ll Be Over Before You Know It” possui uma sonoridade melancólica e bem contida, sendo a faixa mais sombria do álbum. “A Single Solemn Rose” também é mais suave e cativante, com um refrão que contagia, quase como um AOR. “Mana” segue a sonoridade da música que antecede, em um rock mais leve e aprazível.
A banda, com o baixista Brandon Hill, o qual não toca no álbum
Em linhas gerais, embora Mana não invente a roda (e nem tenta), é um álbum bem criativo e variado. Sua estrutura em faixas mais curtas (variando entre 3 e 4 minutos), revelam uma banda que vai direto ao ponto e se preocupa com a qualidade das melodias. As preferidas são “Jackie”, “Don’t Waste Your Time” e “It’ll Be Over Before You Know It”. E nesta estrutura oscilando em peso/leveza/velocidade, Mana possui uma musicalidade que lembra demais o Blue Öyster Cult, ou seja, o Metal é presente, mas sonoridades mais tradicionais estão por toda parte. As letras refletem temas como existencialismo, religião e o contraponto entre luz e trevas.
Para não dizer que tudo são flores, embora os vocais de Gabriel Franco tenham agradado muito, em quase todas as canções ele “solta” uns urros do nada que não fazem o menor sentido. E as 2 faixas finais de Mana estão em um degrau abaixo das demais. Mesmo assim, a estreia do Idle Hands já é um destaque entre novos trabalhos que serão ouvidos neste ano.
Formação:
Colin Vranizan – Bateria
Sebastian Silva – Guitarra-solo
Gabriel Franco – Vocal, Guitarra, Baixo
Tracklist:
1. Nightfall
2. Jackie
3. Cosmic Overdrive
4. Don’t Waste Your Time
5. Give Me to the Night
6. Blade and the Will
7. Dragon, Why Do You Cry
8. Double Negative
9. It’ll Be Over Before You Know It
10. A Single Solemn Rose
11. Mana

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

TWISTED SISTER - YOU CAN'T STOP ROCK 'N' ROLL [1983]

Por Daniel Benedetti
O início do Twisted Sister se deu em 1972, quando o guitarrista John Segall, que seria mais conhecido por Jay Jay French, fez um teste e foi chamado para ingressar em uma banda chamada Silver Star, criada pelo baterista Mel Anderson (ou Mell Star). O Silver Star, segundo seu criador, seria a versão de New Jersey da banda NY Dolls.
Jay Jay odiava o nome Silver Star e forçou o grupo a mudá-lo. Em fevereiro de 1973, a banda passou a se chamar Twisted Sister e contava com a seguinte formação: o vocalista Michael Valentine, o guitarrista Billy Diamond, o baterista Mell Star, o baixista Kenneth Harrison Neill, e o guitarrista Johnny Heartbreaker (o próprio, que logo se chamaria Jay Jay French).
A banda acabou se mudando para New York City e tocava regularmente nos clubes noturnos da cidade. Muitas vezes, o Twisted Sister conseguia se apresentar seis vezes por semana, embora, comumente, no mesmo local. Quando o grupo teve sua primeira mudança na formação, em dezembro de 1974, estima-se que o conjunto já havia se apresentado por volta de 600 vezes. Com Rick Prince nos vocais e Keith Angel na guitarra, o Twisted Sister continuava trabalhando.
A banda em ação em 1982.
Rick Prince falta a um show e é demitido do grupo, com Jay Jay assumindo as funções de vocalista e, ao mesmo tempo, de manager da banda. No meio de 1975, o conjunto se desfaz, para logo se reconstituir no final do mesmo ano. Jay Jay French continuaria como vocalista e guitarrista e recrutou seu antigo amigo de colegial, o guitarrista Eddie Ojeda, que também seria um “co-vocalista”. O baterista seria Kevin John Grace, contratado após French ver um anúncio de Kevin procurando por banda. O baixo continuaria com Kenny Neill.
A banda seguiria, então, uma orientação “Glam Rock”, com influências de David Bowie, Slade e New York Dolls, continuando se apresentar em “clubs”. Já em 1976, o agente do grupo, Kevin Brenner, sugere a Jay Jay que o conjunto não poderia ir mais longe sem tocar covers de Led Zeppelin. Para tanto, também aconselhou a Jay Jay que contratasse o vocalista Danny Snider, grande fã do grupo de Page e Plant. Assim, o Twisted Sister continuaria a manter seu visual glam, mas apostaria em uma sonoridade mais pesada, com influências de Led Zeppelin e Alice Cooper.
Um novo baixista, Mark “The Animal” Mendoza, entra na banda em 1978. O grupo sofre ainda algumas mudanças no posto de baterista, com Tony Petri sendo substituído por Joey Brighton, este por sua vez daria lugar a Richie Teeter, o qual, seria trocado por A. J. Pero. A formação clássica da banda se fixaria com Snider nos vocais, French e Ojeda nas guitarras, Mendoza no baixo e Pero na bateria.
O single “You can’t Stop Rock ‘n’ Roll”.
Um dos singles lançados pelo grupo em seu próprio selo acaba por atravessar o Atlântico e cai nas mãos de Martin Hooker, que gosta do trabalho. Hooker é o presidente do pequeno selo britânico Secret Records. Em Abril de 1982, finalmente o grupo assina com a Secret Records, gravadora que era mais voltada ao público punk.
Em junho de 1982, o Twisted Sister lança o EP Ruff Cuts, pela Secret Records. Meses depois, em setembro daquele ano, o álbum de estreia é colocado no mercado, Under the Blade [1982]. A produção foi posta a cargo do então baixista da banda UFO, Pete Way. Embora com uma produção ruim, o álbum fez algum sucesso, especialmente entre o público mais ‘underground’ do Reino Unido.
Após uma aparição em um programa de TV chamado The Tube, o Twisted Sister acabou chamando a atenção do selo Atlantic Records e a gravadora assina com o grupo. Um segundo álbum do conjunto começa a ser trabalhado. Stuart Epps (Elton John, Led Zeppelin) foi chamado para a produção. Já no início de 1983, o grupo se reúne no Sol Studios, em Cookham, na Inglaterra, para a gravação do disco, o qual seria chamado You Can’t Stop Rock ‘n’ Roll. O Twisted Sister era formado por Dee Snider nos vocais, Jay Jay French e Eddie Ojeda nas guitarras, Mark Mendoza no baixo e A. J. Pero na bateria.
O disco foi lançado em maio de 1983, obviamente, pela Atlantic Records.
A. J. Pero surra a bateria até que as guitarras pesadas de French e Ojeda preencham o ambiente na ótima “The Kids Are Back”, uma deliciosa faixa com a aura de Alice Cooper. “Like a Knife in the Back” possui uma nítida pegada NWOBHM com guitarras conduzindo um riff matador. “Ride to Live, Live to Ride” mantém a sonoridade bem pesada e os vocais insanos de Dee Snider são um grande diferencial da música, em especial, no refrão.
“I Am (I’m Me)” é mais cadenciada e menos pesada, em uma abordagem consideravelmente mais voltada ao Hard Rock, mas, mesmo assim, é uma canção empolgante. “The Power and the Glory” é um Hard/Heavy mais malicioso, com a bateria de Pero fazendo diferença, antes de se desaguar em um Metal mais veloz. “We’re Gonna Make It” abre o lado B com um Hard Rock saboroso, mesclando um ritmo envolvente e guitarras afiadas. “I’ve Had Enough” segue com as guitarras pesadas e uma boa dose de intensidade, com ótimos solos.
Já em “I’ll Take You Alive” tem-se uma faixa direta, pesada e sem rodeios, que vai direto ao ponto. “You’re Not Alone (Suzette’s Song)” é uma balada que Dee Snider compôs para sua esposa, Suzette. O álbum é encerrado com a faixa-título, “You Can’t Stop Rock ‘n’ Roll”, um petardo Heavy Metal de primeira linha, fechando os trabalhos no mais alto nível.
O single “I Am (I’m Me)”.
Os 3 singles lançados para a promoção do álbum foram bem na principal parada britânica desta natureza: “I Am (I’m Me)” ficou com a 18ª posição, “The Kids Are Back” conquistou a 32ª colocação e “You Can’t Stop Rock ‘n’ Roll” atingiu o 43º lugar. Entretanto, nenhuma delas vingou na principal parada norte-americana similar. Desta maneira, You Can’t Stop Rock ‘n’ Roll alcançou a ótima 14ª posição da principal parada britânica de álbuns, ficando com a modesta 130ª colocação na correspondente norte-americana, a Billboard 200.
You Can’t Stop Rock ‘n’ Roll é um ótimo disco de Heavy Metal e Hard Rock, apostando em uma musicalidade pesada, mas sem abrir mão das melodias. Ainda contém algumas das melhores composições do Twisted Sister, como “The Kids Are Back”, “We’re Gonna Make It” e a faixa-título. Em 1995, o álbum já havia superado a casa das 500 mil cópias vendidas apenas nos Estados Unidos. Em 2016, o tradicional site canadense Metal Rules colocou You Can’t Stop Rock ‘n’ Roll na 94ª posição de sua lista The Top 100 Heavy Metal Albums.
Tracklist
  1. The Kids Are Back
  2. Like a Knife in the Back
  3. Ride to Live, Live to Ride
  4. I Am (I’m Me)
  5. The Power and the Glory
  6. We’re Gonna Make It
  7. I’ve Had Enough
  8. I’ll Take You Alive
  9. You’re Not Alone (Suzette’s Song)
  10. 10. You Can’t Stop Rock ‘n’ Roll